domingo, 6 de outubro de 2013

A FEIRA em A Gazeta do Acre

GPT estreia A Feira em setembro e realiza turnê no Nordeste em 2014 

E-mail Imprimir PDF
 O Grupo Palhaço Tenorino traz aos palcos acreanos a dramaturgia universal da paraibana Lourdes Ramalho. O espetáculo A Feira tem estimativa de estreia na segunda quinzena de setembro na Usina de Artes.

 Contemplado pela edital Cultura e Comunidade 2012 da Fundação Elias Mansour, o GPT já trabalha com a lógica de encenar a peça em Campina Grande, João Pessoa e Lagoa Grande (interior da Paraíba) ano que vem.

 A responsabilidade não é pequena. Lourdes Ramalho, hoje com quase 90 anos, é conhecida pela exigência na análise, Já mandou tirar dos palcos, espetáculos que tinham a sua assinatura no texto por considerá-los sem qualidade suficiente. “Para todos nós é um desafio e uma honra encenar A Feira”, reconhece o diretor do GPT, Dinho Gonçalves.

 No próximo domingo, o público já pode sentir o cheiro e ouvir um pouco do barulho d’A Feira no Centro Cultural Taumaturgo Filho, no Manoel Julião. O grupo está concebendo as cenas, afinando cantigas e conhecendo as entranhas de “Zabé”.

 Figurinos, cenografia e iluminação trazem a digital do José Maciel que defende a obra de Lourdes Ramalho há mais de 30 anos, sobretudo pela atuação da companhia de teatro que coordena, a Oxente.

 A proximidade entre a Oxente e o GPT se concretizou no último Festival Nacional de Teatro em Londrina, de onde o grupo acreano trouxe o prêmio de melhor atriz coadjuvante pela atuação de Sandra Buh na peça Quem é o Rei?
Universalidade d’A Feira expõe conflitos humanos
 Ele nasceu na terra de Jackson do Pandeiro: em Lagoa Grande, na Paraíba. Assistiu à peça A Feira pela primeira vez em 1983. Com 14 anos, assumiu a condição de defensor da dramaturgia de Lourdes Ramalho pelos palcos do Nordeste e do Brasil. E, desde então, faz isso como uma missão. Durante o intervalo dos ensaios com o grupo GPT, no charmoso Centro Cultural Taumaturgo Filho, o diretor José Maciel conversou com A Gazeta.
 O que A Feira tem de universal? O que faz da obra de Lourdes Ramalho ser necessária no Acre, na Paraíba, no Brasil?
José Maciel - Desde que eu trabalho os textos de D. Lourdes é, justamente, universalizar essa dramaturgia. Esse sofrimento da família que chega, que sai... porque no decorrer do espetáculo, eles acabam se perdendo em meio a muito sofrimento. O que tem a ver, o que tem de universal com a feira acreana, boliviana, peruana? A questão do opressor, do oprimido, ele vai estar em questão, independente dos lugares que nós estejamos. Seja na Paraíba, no Acre, em qualquer lugar.
As personagens são encontradas em todo lugar com outros sotaques

 Esses personagens, essas pes-soas que permeiam as feiras, elas vão estar sempre presente no universo popular; no universo humano, na degradação humana. Como eu falei no início, independente que esteja aqui ou esteja na Paraíba, vai ter sempre a figura do opressor e do oprimido. E mesmo um simples feirante, ele está sempre na sua base principal. Ele é feirante, mas ele está como vendedor. Ele é o dono. E quem chega para comprar, por mais que tenha dinheiro, ele é subjugado à situação de quem está vendendo. Não precisa ser dono de um grande supermercado.
A essência é a mesma

 Um dono de uma pequena banca já defende a mesma essência. A essência é a mesma. O poderio vai estar dentro do ser humano. Porque o lado de ser superior, o lado da humilhação, que a gente não percebe, mas acaba usando... até mesmo o desprezo a quem está mal vestido ou bem vestido dentro de uma feira. Se você chega a uma feira livre e você tem uma bolsa, você acaba sendo melhor atendido do que aquela pessoa que, apesar de ter dinheiro, se veste de maneira diferente. Esses conceitos políticos e econômicos que estão dentro do texto de Dona Lourdes vêm sempre permeando a vida toda.
Essa é a primeira direção sua aqui no Acre. Que impressões você teve do grupo? A proximidade histórica e cultural entre Acre e Ceará facilita o trabalho na hora do palco?
 Facilita. Na conversa que eu tive com o grupo eu disse para que eles façam A Feira e interpretem as personagens sem necessariamente ter que buscar uma interpretação para que ele se torne nordestinos. Eles não vão ser nordestinos nunca. Nordestinos são as personagens. A dramaturgia já remete a isso. Quem assistir vai ver que se trata de uma feira contextualizada em Capina Grande, porque a gente faz questão de deixar a dramaturgia na sua essência, mas são acreanos interpretando. O sotaque vai ser acreano. Eu não tenho porque pegar os atores e fazer com que eles imitem o nordestino.
Isso seria clichê, não?
 Aí, eu não iria universalizar a dramaturgia e nem iria universalizar a própria universalização do acreano. Eles têm que chegar na Paraíba, no Rio Grande do Sul com o sotaque acreano fazendo o personagem nordestino. Eu tenho que entender que eles são nortistas, eles são acreanos. Eles não são do Nordeste. Eu não tenho porque fazer essa exigência de fazer todo mundo sofrer e buscar o esteriótipo para estereotipar os tipos que existem na feira. O tipo de feirante daqui é que tem que tá presente na alma deles. A dramaturgia já é nordestina.
A produção do espetáculo: cenografia, figurino está sob a tua responsabilidade também?
 Aí é uma parte bem cruel porque, além de conceber o espetáculo inteiro, nós, enquanto diretor, temos ideia do espetáculo que queremos. Eu sei que apesar de ser uma feira, o espetáculo vai ter uma linguagem bem contemporânea.
“Contemporânea” eu poderia entender pelo o quê? Palco limpo...
 Você não vai ver a banquinha de feira tradicional. Ao chegar n’A Feira você não vai ver o que você vê pela rua. Isso seria deixar o espetáculo muito Naturalista, muito Realista. Talvez, até o Realismo Fantástico vá existir. O que vai se vê são praticados que vão circular o palco inteiro: ele entra nessa poética toda que já traz esse sofrimento da família que vai estar dentro da feira. Esse praticado, de repente se transforma. Ele passa a ser o balcão do Homem da Cobra, a banca do Chico das Batatas, a banca da tapioqueira, a banca onde o dentista vai extrair dente e depois a banca do fotógrafo lambe lambe.
Quando vamos à feira com a sacola vazia temos a intenção de voltar para casa com a sacola cheia de frutas, legumes. Quem assistir à peça A Feira vai sair com a sacola cheia? O que fica de essência?
 A nossa intenção, e tomara Deus que a gente atinja isso, é a reflexão. A pessoa vai sair daqui sabendo que o ser humano é igual, independente do seu patamar de vida, de seus status, nós todos somos iguais em desgraça. Ele vai sair daqui pleno de possibilidade do cheio de erva doce que pode lhe acalmar. Mas, o mais importante é que ele saia com a sacola e permeada do entendimento econômico, do entendimento político, da conjuntura atual que o Brasil inteiro está passando.

https://agazetadoacre.com/geral/42289-gpt-estreia-a-feira-em-setembro-e-realiza-turne-no-nordeste-em-2014.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário